quarta-feira, 8 de junho de 2011

Marcha das vadias: ela é mais importante do que parece


Aconteceu no sábado, 04 de junho, em São Paulo a primeira Slut Walk brasileira. Slut Walk é uma marcha mundial de mulheres contra o machismo. No Brasil ganhou o nome de Marcha das Vadias. A primeira caminhada de protesto com esse nome aconteceu em Toronto, no Canadá, em abril, depois que um policial disse às estudantes de uma universidade que elas não deveriam se vestir como vadias (sluts) quando frequentassem o campus como forma de evitar os crimes sexuais. Indignadas, elas vestiram os maiores decotes e as menores saias e saíram às ruas para protestar. 

A marcha já aconteceu em mais de 70 cidades e finalmente chegou ao Brasil depois da redatora curtibana, Madô Lopez, de 28 anos, criar uma página para o evento no Facebook. "Acho que faz todo o sentido ter uma marcha dessa em um país machista como o Brasil", diz. Não faz muito tempo, o Brasil assistiu - em parte perplexo, em parte aplaudindo - uma estudante loira ser vaiada e quase linchada em uma universidade porque usava um vestido justo e curto. Todos lembram.

A marcha é um protesto contra a mentalidade, tão antiga quanto disseminada, de que a mulher é a verdadeira causadora da violência sexual da qual é vítima. Está presente na cabeça dos agressores: "ela estava de saia curta", justificativa comum nos depoimentos de estupradores; dos delegados "como você estava vestida quando foi abordada pelo estuprador? de saia? então pode voltar pra casa" (e é por isso que foram criadas as delegacias da mulher); e das próprias mulheres - quem nunca ouviu um comentário jocoso sobre o decote escandaloso da vizinha?

Se pararmos para pensar nesse debate com atenção, surge rapidamente a dúvida: será que as vítimas de violência sexual também se sentem culpadas pelo estupro?

"Sim, todas", diz a psicóloga Ana Paula Mullet Lima, da Universidade Federal de São Paulo, que trabalha no atendimento de mulheres estupradas. "Sempre se perguntam por que com elas, o que fizeram para merecer aquilo. Nosso trabalho é fazê-las entender que foram vítimas de uma doença social, que vê a mulher como objeto passível de uma violência desse tamanho. É um processo longo e doído. A violência sexual desintegra a vítima, que foi literalmente invadida. É muito humilhante. Essas situações não envolvem só a penetração. Tem todo um terror. Muitas vezes os agressores estão armados e dizem que vão matá-las durante o ato e até chegam a urinar em cima delas. Elas sentem vergonha, querem esquecer aquilo e não procuram tratamento. Só vão procurar ajuda quando estão completamente destroçadas: deprimidas, paranóicas".

A recuperação dessas vítimas, segundo Ana Paula, fica ainda mais difícil quando os parentes e amigos também duvidam da responsabilidade delas sobre o estupro. "Quando elas engravidam do agressor, é comum que os namorados e maridos as deixem. Questionam o estupro, dizem que o filho é de um amante. Acontece em todas as classes sociais". O caminho para mudar essa mentalidade no Brasil é longo. Alguns passos foram dados neste sábado, na avenida Paulista.


Fonte: Marie Claire

 

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