segunda-feira, 13 de julho de 2009

Calças

Sarouel, legging, baggy, clochard, harem, skinny… Dá para perder a conta de quantos modelos já passaram pelo nosso closet. Mas o reinado das calças não foi tão fácil assim: elas enfrentaram uma verdadeira guerra contra vestidos e saias para alcançar o posto de peças-chave, adoradas pelas mulheres no mundo inteiro.


Anos 10
Figurinha carimbada nos looks masculinos, as calças ficaram longe das mulheres e dos saltos até 1909. Tudo começou a mudar quando o estilista francês Paul Poiret (1879-1944) – o mesmo que decretou o fim do espartilho – entrou em ação. Como a elite tinha acabado de descobrir os encantos do orientalismo por conta da primeira temporada parisiense dos Ballets Russes, Poiret aproveitou a deixa e, entre turbantes e estampas em cores vivas, apresentou sua proposta para as mulheres: uma pantalona bufante, estilo odalisca, presa nos tornozelos sob uma túnica aberta. A calça não se tornou um hit instantâneo – só as atrizes mais ousadas adotaram, mas apontou os futuros rumos da moda.




Anos 20
O início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) contribuiu, indiretamente, para a popularização da calça. Se os maridos, pais, filhos e irmãos tinham de ir para o front, sobrou para as mulheres a tarefa de trabalhar fora de casa. O resultado? Uma dose maior de independência, liberdade para circular sozinha pelas ruas e participar de atividades esportivas.Mas as roupas da época não eram lá muito apropriadas para tantas novidades. A moda, assim como o mundo, tinha de passar por uma revolução. Quem teria ousadia suficiente para liderar o movimento? Simples, a estilista que impôs o tailleur, a moda dos cabelos curtos e das bijoux com cara de joia. Em 1920, Chanel apostou sem medo em uma das mais marcantes de suas inovações: uma calça larga, inspirada nos marinheiros, que facilitava os movimentos, era confortável e logo foi adotada nas mais badaladas rodas. Estava dada a largada para que as calças ganhassem as ruas e fossem reinventadas pelos grandes nomes da moda.


Anos 30
Enquanto se refazia do impacto causado pelas calças de Chanel, a sociedade foi novamente pega de calças curtas: a diva do cinema Marlene Dietrich (1901-1992) arrancou “ohs” da plateia com sua aparição no filme Morocco, de Josef von Sternberg, usando chapéu e terno masculino em cenas para lá de picantes.








Anos 40
O período amargo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) chegou à moda, que, com ares de sobriedade, se viu invadida pelos uniformes de trabalho – não pegava bem usar vestidos esfuziantes, certo? As calças se tornaram imprescindíveis em trajes como o Conjunto Abrigo criado por Elsa Schiaparelli (1890-1973), que contava com uma pantalona mais curta e extremamente prática.










Anos 50
A libertação trazida pelo fim da guerra deixou as mulheres, cada vez mais influenciadas pelo cinema norte-americano, ávidas por novidades. No filme Sabrina (1954), por exemplo, Audrey Hepburn (1929-1993) esbanjou charme e feminilidade em uma calça Capri justa. A musa hollywoodiana se consagrou como um ícone fashion e participou da disseminação do estilo divertido e sensual das pin-ups.








Anos 60
Com a chegada da era do entretenimento e contracultura, os jovens quiseram exercer o poder de decisão também na hora de se vestir. As criações de André Courrèges (1923) surgiram como um delicioso convite. Em 1965, ele lançou uma coleção que incluiu, de uma vez por todas, as calças como item fundamental no closet feminino. Nessa década, as calças de couro e cintura baixa entraram em cena e ganharam o posto de queridinhas entre as mulheres.









Anos 70
As calças mais poderosas da década foram as que acompanharam o famoso smoking criado por Yves Saint Laurent (1936-2008) em 1966. O look simbolizava o novo posto ocupado pela mulher na sociedade, com boa dose de glamour e atitude. A partir daí, o visual passou a fazer parte de todas as coleções do criador e do guarda-roupa das mais chics. A atriz Diane Keaton surpreendeu no red carpet do Oscar em 1976, ao adotar o traje de inspiração masculina em meio às outras estrelas hollywoodianas e seus longos tradicionais. As boca-de-sino, típicas dos hippies, também marcaram o período.

Anos 80
A era dos yuppies, da música disco, da ostentação e do uso do vestuário para mostrar poder, foi marcada, paradoxalmente, por calças inspiradas nos mendigos parisienses. A clochard – grande, amarrada na cintura e com canelas à mostra, foi adotada pelos fashionistas. Com ares de flashback, o modelo volta à cena fashion, como se viu em quase todos os looks no desfile de primavera 2009 da Chloè.










Anos 90 Tendo o minimalismo como palavra de ordem, a moda foi ditada pela simplicidade das formas. Numa época em que a preocupação era estar bem vestida demais, as calças retas se tornaram peças-chave para mulheres de todos os estilos. As grandes maisons foram cedendo lugar às marcas de luxo e top models como Cindy Crawford, Linda Evangelista e Naomi Campbell roubaram o lugar das atrizes no imaginário da população. No final da década, começa o boom do jeans Premium, encabeçado pela Diesel.






Anos 2000 Com o desenvolvimento frenético da indústria e das tecnologias, a moda tornou-se extremamente dinâmica. De ano em ano, alguns modelos de calças são resgatados e reeditados. Mas, a calça skinny triunfa absoluta, resistindo às novidades e com os pés fincados no guarda-roupa feminino. A busca pela renovação também traz influências de etnias e culturas em cada estação. No momento, as coleções mais desejadas do planeta propõem modelos harem, sarouel, montaria, legging, curta, desgastada e a famosa carrot - mais larga no quadril e afunilada na perna -, hit de 2009.

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